Por Patricia Jacob*
Você alguma vez já se perguntou: “Por que sou tão agressivo com meu filho, quando na verdade queria ser carinhoso e amigo?”. Acredito que muitos pais já se viram assim e sentiram-se muito mal com isso. Mas nenhuma mãe ou pai é bravo ou agressivo com o filho porque são maus ou porque não o amam. Pelo contrário, os pais querem o melhor para seus filhos e isso comumente faz com que, no processo de querer educá-los da melhor forma possível, fiquem sem saber o que fazer em certas situações. Esse “sem saber o que fazer” ou o “não poder fazer nada pelo filho” numa dada situação, é o sentimento de impotência, que é muito difícil de se sentir, principalmente quando se trata de quem amamos. E o sentimento de impotência é o que mais gera agressividade no ser humano. Alguns exemplos para que entendam o que é este sentimento de impotência e o percebam gerando agressividade:
*O bebê está chorando há horas. A mãe já tentou dar o peito, já deu chupeta, chazinho, remedinho pra cólica, pegou no colo, ninou, cantou… Já não sabe o que fazer (impotência), então fica brava e agressiva com o bebê.
*Uma mãe quando perde seu filho no meio de uma multidão. Ela desespera, fica sem saber o que fazer e promete que quando encontrá-lo vai enchê-lo de abraços, que nunca mais vai largá-lo. E quando o encontra, o que ela faz? Briga com a criança! Por quê? Por causa do sentimento de impotência que a situação a fez sentir.
*A mãe de uma criança “difícil”, que entra na fase de testar limites, de dizer não a tudo, de ser desobediente. Essa mãe tenta dar a melhor educação possível, fazer dele um bom garoto, se esforça mesmo pra ser uma boa mãe. Mas mesmo assim, uma vez após a outra, o filho apronta aquela arte, colocando abaixo tudo o que ela havia ensinado. Como ela não sabe que ele está simplesmente obedecendo a um impulso da natureza infantil desta idade e não consegue dar limites de maneira eficaz, sente-se impotente e aí fica agressiva.
Então como conseguirmos lidar com esse sentimento?
Temos que poder nos perguntar, quando temos alguma situação difícil com os filhos, o que estamos sentindo nesse momento. Perguntar-nos o que está nos deixando bravos e descontrolados: se a raiva é engatilhada por um problema externo e estou transferindo pra casa, então tenho que me conscientizar de que não é justo descarregá-la nos filhos. Leia os artigos sobre como lidar com a agressividade e o stress do dia-a-dia (o artigo passado e o anterior). Mas se for a impotência, pergunte-se “Por que estou me sentindo impotente?”. Na maioria das vezes vai encontrar 3 respostas:
*”Estou me sentindo impotente pois tenho muitas dúvidas sobre como educar bem meu filho. Percebo que as crianças passam por várias fases e às vezes não sei como proceder da melhor maneira em cada uma dessas fases.” Se for essa a resposta, então procure a orientação de um psicólogo infantil ou um grupo de apoio a pais.
*”Tenho dificuldades em colocar limites claros no meu filho e já não tenho mais controle sobre ele.” Aqui também cabe procurar uma orientação, mas você pode antes tentar encontrar dentro de si o porque dessa dificuldade em dizer “não” (é o medo de perder o amor do filho ou magoá-lo e traumatizá-lo ou essa dificuldade também é frequente quando tem que dizer não às pessoas lá fora?) Tente também reler artigos anteriores a este, quando o tema ainda era limites e punições.
*”Meu filho está passando por uma crise ou dificuldade. Sei que é inevitável ao seu processo de amadurecimento, mas vê-lo sofrer sem que eu possa fazer nada me deixa louca!”. Situações como esta são muito comuns principalmente pra quem tem filho na adolescência. Nesses momentos, o melhor a fazer é tentar orientá-lo (o que nem sempre adianta), mas principalmente escutar sua angústia. Sua escuta acolhedora é o melhor instrumento de ajuda que você pode ter nessas horas de sofrimento. Mostrar compreensão também é importante, por mais simples ou tola que a situação pareça para os pais. Quando eles podem falar, chorar, e reclamar bastante sobre o que os faz sofrer, a angústia vai passando… Só não deixe que o sentimento de impotência tome conta de você porque não sabe o que dizer para ajudar, e não fique bravo com o sofrimento de seu filho.
Escutá-lo já é uma grande ajuda!
*Patricia Jacob é psicóloga clínica formada pela USP-SP.