Por Patricia Jacob*
Meu recado hoje vai para os pais de crianças na pré-escola (de até 7 anos). Me chama a atenção a preocupação cada vez maior dos pais com a performance intelectual dos filhos, em detrimento de seu desenvolvimento emocional saudável. Temos visto muitos pais entrando “na onda” da hiperestimulação das crianças desde muito cedo. São estímulos, cursos, recursos… Quanto mais cedo adquirirem habilidades motoras e intelectuais, mais felizes e certos de que seus filhos estão se desenvolvendo bem os pais ficam. Alguns agem assim por desinformação, outros por pura vaidade e competição.
Nos primeiros anos de vida, o grande foco de alguns pais torna-se a comparação: “Olha que bonitinho, ele já sabe falar tão cedo!”, “Meu filho engatinhou antes que o filho da fulana.”ou “O seu filho ainda usa fralda? O meu, com um aninho, já não usava mais.”. Como se tudo isso fosse grande vantagem… Já no maternalzinho, a grande preocupação é ter os filhos (e os alunos, pois muitos professores também entram nessa pressa também) aprendendo a ler e a escrever o quanto antes. Se o filho vai pra primeira série cedo então, é um orgulho só: “ele está adiantado!”. Só que infelizmente muitas vezes os pais não têm idéia do mal que isso pode causar futuramente a seus filhos.
Quando a criança se vê exposta a essa ansiedade e essa “correria pedagógica” que toma conta dos pais e professores, ela se esforça muito para ir de encontro com as expectativas deles. E por muitas vezes até consegue os resultados desejados. Mas não se têm noção do quanto isso pode custar caro para a criançada…! Para serem precocezinhos, vão ter que “pular” muita coisa importante que deveriam experimentar antes, na idade apropriada e essa pressa pode por a perder experiências fundamentais que os pequeninos deveriam ter na tenra infância para que possam ter um aprendizado criativo, ativo, saudável e prazeroso por toda a vida escolar. E as escolas vão perceber as consequências disso lá pelo terceiro ou quarto ano, ou na forma de desinteresse, ou de ansiedade extrema, ou quando a criança começa a apresentar uma dificuldade na assimilação de conteúdos mais complexos ou ter um aprendizado automático, sem criatividade.
Até por volta dos 7 anos para os meninos e um pouco mais cedo para as meninas, que amadurecem antes, o “conhecimento” mais importante que a molecada pode ter é o da brincadeira livre e e a descoberta solta da vida e das relações com outras crianças. Com isso, vão adquirir os aprendizados que são de maior importância na idade pré-escolar: vão aprender a se relacionar, a fazer amizades, aprender sobre cooperação, parceria, vão adquirir a estrutura emocional necessária para enfrentar conflitos no futuro. Somente depois dessa idade é que devemos nos preocupar com o aprendizado intelectual mais estruturado. O que é ensinado antes disso, deve ser feito com muito cuidado, de forma bastante lúdica (com brincadeiras) e sem muita preocupação com o rendimento. O foco nessa etapa deve ser o desenvolvimento emocional: é ele que, se feito de uma forma saudável, vai propulsionar o aprendizado intelectual nos anos seguintes. Em vez de cursos e recursos, eles precisam de experiências afetivas positivas. Sem isso e sem o respeito às fases e à maturidade emocional da criança, vamos certamente ter problemas futuros.
Então, pais, vamos ceder à tentação de olhas nossas crianças como pequenos cerebrozinhos famintos por conhecimento. São apenas crianças, que ainda precisam crescer de modo integral. Métodos pedagógicos atuais podem alfabetizar crianças com cinco anos ou até menos. Ótimo! Mas os pequenos valem muito mais do que métodos, do que a vaidade e o vício competitivo dos adultos.
Patricia Jacob é psicóloga formada pela USP-SP.