Por Patricia Jacob*
Uma das maiores dificuldades dos pais hoje em dia tem sido conseguir ser ouvido, respeitado e obedecido pelos filhos. Cada vez menos pais conseguem impor limites, tão importantes para a formação da criança. No dia-a-dia da clínica, frequentemente ouço essa queixa: “Já gritei, já bati, já ameacei, mas nada adianta… Ele não me obedece…!“
Um dos maiores desafios dos pais é conseguir ser ouvido sem ter que gritar ou bater. E isso é muito importante ser aprendido, pois a experiência nos mostra que o berro ou o tapa pouco funcionam. Ou então têm um efeito temporário, que a longo prazo acaba por piorar a situação e se transforma num ciclo complicado em que os pais têm que utilizar formas cada vez mais drásticas para serem obedecidos. De um tapinha no bumbum, passa a um tapa na mão, a um tapa mais forte no braço, na cabeça, até chegar a uma surra ou uma violência mais séria. Ou de um grito, passa a um berro, uma humilhação que afeta a auto-estima da criança seriamente, até que a criança está berrando mais alto que o próprio pai e se sentindo completamente desvalorizada. E esse ciclo vai aumentando até a hora em que perdem completamente o controle e o respeito dos filhos quando chegam na adolescência, ou passam a viver uma relação onde só existe agressividade e violência. E com isso um dos lados –geralmente os dois- sempre acaba seriamente machucado (fisica ou emocionalmente).
O apanhar faz com que a criança fique cada vez mais rebelde e vingativa (vocês já ouviram o famoso “pode bater, não dói nada!“) e o grito faz com que a criança aprenda também a gritar ainda mais que os pais.
Vamos falar, então, de alguns pontos importantes de intervenção para que este ciclo não se inicie ou não continue: como dar instruções eficazes para as crianças e como agir quando a criança não obedece. E nos próximos artigos vamos falando aos poucos sobre como semear sentimentos de valorização e cumplicidade com a criança, que são de extrema ajuda na questão disciplinar.
Como dar instruções eficazes:
Terei que colocar aqui de uma forma que pode soar como “receitinha pronta“, o que não leva em conta a individualidade de cada criança e de cada momento. Mas com o tempo, iremos aprofundando cada vez mais cada um desses tópicos. O ideal é que você começe a direcionar-se à criança com firmeza desde quando ela é bem pequena. (Lembre-se: firmeza não significa grito) Mas mesmo se seu filho já está mais velho, nunca é tarde para começar. Se esse é o caso, é esperada alguma resistência da criança, mas não desista facilmente e verá os resultados! Você pode seguir esses simples passos:
Antes de dar a instrução:
1. Tenha claro em sua mente o que você quer que seu filho faça e quando quer que seja feito.
2. Decida quais serão as consequências se a criança não obedecer.
3. Decida se é uma situação em que você pode ser flexível ou não.
Dando as instruções:
1. Vá até a criança ou chame-a até você. De nada adianta gritar da cozinha para a sala: “Fulaninho, vai tomar banho!“.
2. Fale olhando nos olhos dela (se a criança for pequena, abaixe-se).
3. Afirme a necessidade e diga o que você quer que ela faça.
4. Seja bastante específico – dê uma tarefa de cada vez, principalmente para as mais novas.
5. Veja se ela começa a obedecer. Não deixe que ela te “enrole“ se for uma tarefa que precisa ser feita na hora (como quando faltam 20 min. para a hora de ir para a escola). Se ela obedecer prontamente, elogie.
6. Se for uma tarefa que não precisa ser feita na hora, dê opções claras. Se você disser “Fulaninho, vai tomar banho“, a tendência é receber um “não“ ou um “já vou“ que nunca acontece. Dizendo “Você prefere tomar banho antes ou depois do Pokemon?“ faz com que ele tenha que fazer uma escolha e a tendência de que o pedido seja seguido fica bem maior.
E quando nem assim eles obedecem???
O momento em que a criança não faz o que é preciso ser feito, é um ponto crítico. Chamo de ponto crítico pois a maneira como os pais lidam com esse momento é crucial para cortar ou perpetuar aquele ciclo complicado de falta de limites do qual falamos algumas semanas atrás. Esse é um tema bastante importante e abrangente, então hoje vou colocar de forma bastante simples, para nas próximas semanas aprofundar mais em cada tópico necessário. Para começar:
1. Lembre-a mais uma vez: “O que foi que eu pedi para você fazer?“ ou “O que é que você tem que fazer agora?“. Se a criança responde corretamente, diga “Isso! Então pode começar!“. Se a criança te olha com aquele conhecido olhar vago, pode ser mesmo que ela não tenha entendido, então novamente explique (focalizando toda sua atenção a ela) e seja específico e firme.
2. Afaste-se e dê um tempo para que ela faça. Ficar parado na frente da criança esperando é um “convite“ para que se inicie uma briga de “quem pode mais“.
3. Se o olhar vago foi de desafio e não de incompreensão e ela não faz o que você pede, então agora é a hora de falar quais serão as consequências se ela não obedecer. Dê um aviso.
4. Se ela fizer o que você pediu , nunca esqueça de agradecer e elogiá-la.
5. Se ela não obedecer, dê a consequência (falaremos disso semana que vem) imediatamente. A criança tem que saber na hora porque está sendo castigada, ou pode não entender porque está sendo punida. Os melhores castigos são aqueles breves, mas que poderão ser seguidos até o fim.
Com crianças menores -1,5 a 4,5 anos- na maioria das vezes simplesmente o pedido verbal não funciona (é aquela idadezinha chata em que eles adoram dizer “não“), então percebemos que o melhor método para conseguir o que queremos é o que chamamos de educar com as mãos. Ao invés de dizer “Fulaninho, vá tomar banho“, é muito mais eficiente se a mãe ou o pai for até a criança, pegar na sua mão, dizer “Agora é hora de tomar banho“, e levar para o banho. A criança pode ir esperneando, reclamando, mas vai (e claro que na hora de tirar do banho você vai ter que usar o mesmo método, pois eles já estarão gostando do banho e não vão querer sair!). Com isso, aos poucos, começam a chegar na idade em que podem cuidar dos próprios horários sozinhos e passam a fazer por si só, ou um simples lembrete “Hora do Banho!“ já é suficiente.
*Patricia Jacob é psicóloga clínica formada pela USP-SP.