Por Patricia Jacob*
Lidar com a morte é uma das tarefas mais difíceis para o ser humano, quem dirá para uma criança. Quando uma criança perde uma pessoa querida e próxima, normalmente os pais ou responsáveis têm uma dificuldade muito grande em explicar o que é a morte e saber como lidar com os sentimentos que a criança expressa.
Para que a criança se “cure” da dor da perda com o tempo, é de extrema importância que ela passe por um processo de luto, assim como os adultos. Para que esse processo se inicie, o primeiro passo é a compreensãodo que está acontecendo. Por mais difícil que pareça, você deve ser o mais honesto possível. Você deve explicar suas crenças religiosas e espirituais em uma linguagem que a criança possa entender, mas é essencial explicar a morte de fato: o corpo não funciona mais, a pessoa não come, não fala, etc.
Não adianta tentar enganá-la dizendo que vovó está dormindo: isso quer dizer que ela logo vai acordar . Também é cruel dizer que vovô ou papai foi viajar: ela vai ficar esperando e se sentir abandonada por ele quando perceber que não volta mais. Como o conceito de morte é muito abstrato, a criança compreende mesmo que ela não é reversível (que não tem volta) somente por volta dos 6 ou 7 anos. Mesmo assim é importante tentar explicar, mas não se surpreenda se ela perguntar várias vezes sobre a morte e se a pessoa morta vai voltar.
Sobre a causa da morte, só dê detalhes gerais. De nada adianta dar detalhes que eles não estarão prontos para digerir. Nesse item, deixe que as perguntas deles seja seu guia. E se a causa da morte foi uma doença, é importante dizer que a maioria das pessoas que ficam doentes melhoram, e que as pessoas não morrem de gripes ou resfriados, mas só de doenças graves.
Por fim, a notícia da morte deve ser dada por um dos pais, se possível, por uma questão de confiança. Não tenha medo de não ter a resposta para suas perguntas, muitas vezes tão difíceis: tudo bem dizer que você também não sabe…
Uma das dúvidas mais frequentes que surgem quando uma criança perde um ente querido é se devemos ou não levá-la ao velório. Minha conduta nesses casos é orientar os pais a permitir que seus filhos vão, mas nunca forçá-los. Minha conduta nesses casos é orientar os pais a permitir que seus filhos vão, mas nunca forçá-los. O funeral, assim como qualquer outro ritual, é importante pois tem para a criança o mesmo propósito que para o adulto: é um fechamento, um ritual que, por mais doloroso que seja, ajuda as pessoas a entenderem e “acreditar” que a pessoa se foi, além de ajudar a expressão de sentimentos. Com isso, a elaboração do luto fica facilitada. No entanto, não se deve esquecer antes de irem, de explicar para a criança o que irá acontecer – quem estará lá, como e aonde será, dizer que as pessoas vão estar tristes… Se o velório for de alguém muito próximo (um familiar ou um dos pais), deve-se escolher alguém da confiança da criança para estar sempre junto dela e levá-la para outro lugar se preciso e dá-la o suporte necessário.
Tanto durante o funeral, quanto nos dias que se seguem, deve-se permitir que a criança expresse seus sentimentos da maneira que ela tiver necessidade. Nada de “não chore!”. Se preciso, tem que chorar, sim! É assim que a gente vai curando a dor da perda, vai lavando nossa alma. E isso é verdadeiro também para os pais. Os pais devem evitar ter um ataque de choro histérico na frente das crianças, pois pode assustá-la muito, mas deve sim expressar sua dor (o que inclui chorar, querer ficar “amuado”, quieto…). Isso vai mostrar pra criança que é normal ter sentimentos, ficar triste, ter saudade. Deve-se também poder falar da pessoa que se foi. É muito angustiante para a criança quando o assunto vira um tabu e ninguém mais fala do que aconteceu. Muitas vezes as perguntas, as dúvidas e até a tristeza da criança só vão aparecer alguns dias depois (muitas até ficam brincando e rindo no velório, pois ainda não entenderam bem a situação), e é importante que a família continue aberta para ajudá-la, respondendo o que for possível e dando suporte para seus sentimentos mesmo se isso vier dias depois.
*Patricia Jacob é psicóloga clínica formada pela USP-SP.