Por Patricia Jacob*
Semana passada, no dia 11 de Fevereiro, fez 27 anos que Nelson Mandela foi solto, após 27 anos de uma prisão injusta. Foi condenado à prisão por ter desafiado as leis do Apartheid em seu país de origem, a África do Sul. Um exemplo de perdão, superação e resiliência (força emocional para superar adversidades e resistir a pressões emocionais ou traumas), esse homem saiu da prisão cheio de garra, energia e força para continuar lutando contra o Apartheid de uma forma lindíssima: sem luta, sem guerra, sem mortes… E conseguiu! Assim que saiu da prisão, foi eleito o primeiro presidente negro de seu país e, sem ato de violência algum, conseguiu unir brancos e negros na África do Sul.24
Sempre que me lembro de Mandela, me lembro de Mahatma Gandhi. Gandhi, um homem miúdo e magro, que se despojou de todos os seus pertences e vestia apenas um pano branco em volta do quadril, tornou-se um dos ícones da paz no mundo. E também conseguiu isso sem sangue, sem mortes, sem violência. Também foi preso (várias vezes), mas sempre utilizou métodos pacíficos para conseguir a independência da Índia em 1947, um país dominado por quase dois séculos pelos ingleses.
E assim como Mandela e Gandhi, a história está repleta de seres iluminados e figuras que, com bom coração e intenções puras, lutam por algo em que acreditam ou lutam por melhorar nosso país, nosso planeta. Ou pelo bem estar dos seus próximos ou de suas famílias, como a maioria dos trabalhadores do nosso brasilzão, que enfrentam diariamente trens lotados, empregos muitas vezes degradantes e ainda assim mantêm sua dignidade e as boas intenções. São estes os verdadeiros heróis!
E é então que me ponho a pensar: como é que alguém tem a audácia de chamar os participantes do BBB de “heróis”??? Que cabimento tem oferecerem o Prêmio Nobel da Paz a Obama, que acabara de enviar 30 mil soldados ao Afeganistão???
Só nesse nosso mundão cheio de valores distorcidos pra isso acontecer… O arrogante, soberbo e individualista é o admirado; o humilde, simples e altruísta é visto como um idiota sem valor. O artista bonitão e vazio é visto como um deus a ser venerado e modelo a ser seguido, mas os heróis de verdade são pouco lembrados e sequer conhecidos pela maioria…
*Patricia Jacob é psicóloga clínica formada pela USP-SP.