Por Patricia Jacob*
Em vários artigos anteriores sempre frisei muito a importância dos limites na educação das crianças. No entanto, quando estamos falando de bebês no seu primeiro ano de vida, temos que pensar bem diferente: não adianta pensar em impor disciplina e limites rígidos nos primeiros meses. O que precisamos nessa fase é dar a eles satisfação quase completa dos seus desejos. A isso chamamos na psicologia de “disponibilidade total” da mãe para com as necessidades do bebê (em todos os aspectos: alimentação, higiene, afeto, estimulação, contato físico). Isso é muitíssimo importante, principalmente nos seus primeiros 3 ou 4 meses de vida.
Não dizem que a primeira impressão é a que fica? Pois é, e isso é real também para o primeiro contato com a vida. Se esse contato for bom, positivo, cresceremos pessoas confiantes na vida, otimistas. Ao contrário, se esses primeiros meses forem cheios de privações, rigidez e sofrimento, sentiremos o mundo como ameaçador e nos tornaremos pessoas pessimistas, inseguras, sem confiança na vida, nas pessoas e em nós mesmos.
Me surpreendi com tanta gente me aconselhando, logo após o nascimento do meu filho, para que eu não o pegasse muito no colo, “para ele não se acostumar”. O colo e o contato físico são essenciais para o desenvolvimento emocional saudável do bebê! Outro conselho comum, mas extremamente danoso para o bebê é o clássico “tem que deixar chorar”. Não, não tem! O chorar é a forma dele se comunicar, então devemos tentar entendê-lo. É fome? Então dê leite, mesmo se ele acabou de mamar há vinte minutos. É frio? Então aqueça-o ou troque sua fralda molhada. É necessidade de aconchego? Então dê-lhe o colo ou o peito, que lhe dão segurança e o fortalecem para que ele consiga enfrentar esse mundão que de início é tão amedrontador para ele. Nada disso adianta e não é nenhuma dor física? Então ele deve estar assustado e precisando chorar, mas nada mais confortante do que poder chorar no colinho de alguém até que a gente se alivie, não é? Ser deixado sozinho enquanto chora para o bebê é desesperador e traz um intenso sentimento de insegurança, que ele pode carregar por toda sua vida. De fato funciona: muitas vezes após serem deixados chorando sozinhos por algum tempo, eles “aprendem” a ficar sós. Mas isso é ilusório: na verdade o que eles aprendem é que não adianta pedir ajuda e então desistem… mas ficam com uma sensação de abandono dentro deles.
É, eu sei… dá um trabalho danado! Mas lhes garanto que se satisfizermos plenamente suas necessidades e seus desejos, estaremos dando a eles um sentimento de segurança e confiança no mundo e nas pessoas para a vida toda, além de estarmos fortalecendo-os para enfrentarem os “nãos” (nossos e da vida) após o primeiro aninho. Vale a pena o trabalho! Se eles têm o que precisam na época certa, com o passar do tempo vão adquirindo cada vez mais independência e aí nós é que sentiremos saudades do tempo em que eles pediam nosso colo…
*Patricia Jacob é psicóloga formada pela USP-SP.