Por Patricia Jacob*
No artigo passado falamos do perigo do consumismo na vida das crianças. Mas sabemos que não só as crianças caem nessa sedução. Nós, adultos, teoricamente maduros e conscientes do que queremos ou não, também caímos nessa armadilha com muita facilidade. Por quê? Bom, temos aqui vários porquês, mas primeiro vamos diferenciar consumo e consumismo.
Consumo é quando adquirimos itens necessários à nossa sobrevivência, ou com a consciência necessária a qualquer ato de escolha. Consumismo é quando compramos sem consciência e sem necessidade. É um ato compulsivo e que se deixa influenciar pelo marketing das empresas com garotos-propaganda gritões, ou outras que nos convencem que se tivermos o produto ‘tal’, seremos mais felizes. É o carro chefe do capitalismo e da nossa famosa “sociedade de consumo”.
Bom, então vamos aos porquês… Começa com a competência da indústria de propaganda em nos seduzir. As agências de propaganda sabem muito bem como usar nossas fragilidades emocionais pra conseguirem o que precisam: que continuemos a consumir, consumir, consumir… Pra isso usam de todo tipo de mídia, mas a mais eficaz é a TV. É uma união “perfeita”! Para a propaganda, o estado ideal do consumidor é o de semiconsciência, pois assim não há crítica (lembram que a propaganda é a arte de convencer a gente a consumir aquilo que não precisamos?). Estudos com eletroencefalogramas mostram que ficamos exatamente assim na frente da telinha: num estado de desatenção, de sonolência, de semi-hipnose, no qual entramos num tempo de meio minuto!
Mas claro que não é só isso! O consumismo tem origens emocionais, sociais, financeiras e psicológicas. A base do estilo de vida de nossa sociedade é clara: CONSUMIR! Consumir pra ficar na moda e ser popular, consumir pra ter mais que o vizinho, consumir pra esquecer dos problemas, consumir pra alcançar a felicidade! Anúncios sedutores associam produtos a poder, status, conforto. E aí confundimos felicidade com essas coisas todas. É um equívoco imenso pensarmos que a alegria pode ser fabricada e vendida como mercadoria!
Hoje em dia queremos que tudo seja fácil e rápido. E o mercado nos fornece a promessa disso tudo: promete até alívio pra qualquer dor e segurança! Mas esquecemos que esse mundo não trouxe mais felicidade, muito menos diminuição da violência. E seguimos consumindo mais, tentando cada vez mais nos anestesiarmos de nossos medos, de nossos vazios existenciais, de nossos sofrimentos, emoções negativas, da realidade da morte e do envelhecimento, de nossas inevitáveis perdas… Consumir acaba por ser um mecanismo de fuga exagerado contra tudo isso. Só que ‘tudo isso’ faz parte da vida, não adianta fugir. Temos é que aprender a lidar com ‘tudo isso’. E tem também nossa mania de nos ‘americanizar’! E o estilo de vida americano nada mais é do que trabalhar, ganhar e consumir. O ‘xic’ é poder comprar tudo o que quisermos e pudermos. Mas isso deveria se transformar em sabermos escolher melhor o que queremos. Temos que lembrar que somos os donos das nossas próprias idéias, não o vendedor, não o marketeiro!
Quanto mais seguros de nosso valor e de nosso potencial estamos, menos precisaremos de elementos externos pra nos sentirmos bem, e menos necessidade de consumir descontroladamente teremos. Enquanto não conseguimos amadurecer e assumir a vida em todos os seus aspectos, seguimos nos iludindo… E por fim, precisamos rever nossos valores: do que a gente REALMENTE precisa? Vínculos importantes, nos sentirmos amados e valorizados, um trabalho gratificante, alimentação saudável, sol, ar fresco… Simples, não? 🙂
(*a frase do título se refere a uma propaganda antiga do chocolate Batom, onde um menininho repetia essa frase várias vezes em tom hipnótico.)
*Patricia Jacob é psicóloga clínica formada pela Universidade de São Paulo (USP-SP), especialista em terapia de família e casal.