Por Patricia Jacob*
Continuando o tema de diálogo entre pais e filhos, iniciado no artigo passado, quero hoje mostrar pra vocês os erros mais comuns na tentativa dos pais em estabelecer uma conversa com as crianças.
Diálogo se semeia desde que eles são muito pequenos. O primeiro erro dos pais quase sempre começa quando a criança tem 3 ou 4 anos e adora contar em de-ta-lhes como foi seu dia e os pais, sem a mínima paciência pra isso, não escutam ou não incentivam esse comportamento. Com o tempo, percebendo o desinteresse dos pais, a criança acaba desistindo.
Depois que eles estão maiorzinhos e já desistiram de dividir seu dia ou seus problemas com os pais, estes, tentando agora resgatar um diálogo com os filhos, acabam tentando iniciar uma conversa interrogando os filhos. E a conversa fica mais ou menos assim:
“Tudo bem, meu filho?” “Hum, hum!”. “Foi tudo jóia na escola hoje?” “Hum, hum!”. “Como foi na prova?” “Mal”. “E como estão seus amigos?” “Bem”. Assim, só o que vamos conseguir são monossílabos ou “hum hums”.
Outro grande erro, que normalmente acontece na adolescência, é quando o filho chega angustiado para um dos pais contando que se meteu em alguma encrenca (experimentou alguma droga por não conseguir dizer não aos amigos, por ex.). A primeira reação dos pais, fruto da preocupação que a situação gera, é dar uma baita bronca, ou xingar e até bater. Se fizermos isso, ele sempre vai ter medo da reação dos pais e nunca mais vai contar algo quando estiver angustiado.
Mas o que fazer, então, para conseguir dialogar com os filhos e como agir quando eles vêm nos contar algo sério e errado que fizeram?
A primeira dica, e a mais importante de todas é: FALE DE VOCÊ PARA SEUS FILHOS. Fale do seu dia-a-dia, do seu trabalho, e conte histórias de sua infância e de sua vida (não aqueles sermões: “no meu tempo…!”. O que você tem que ter como objetivo é que seu filho te conheça mais). Se quisermos que eles tenham o hábito de nos contar suas coisas, nós temos que dar o exemplo. Sempre peço para os pais que me procuram: todos os dias, desde que eles são pequenos, chegue em casa e conte algo do seu dia e faça disso um hábito. Uma frase já é suficiente, mas ela tem que conter um sentimento e um fato. Por exemplo: “Filho, hoje o papai ficou muito feliz (o sentimento) porque meu chefe me elogiou (o fato)”. Ou “Filha, hoje a mamãe está triste porque uma amiga ficou doente”. Não importa o que vai contar, pode ser algo aparentemente insignificante pra você. O importante é sempre citar um sentimento para que eles aprendam a falar dos próprios sentimentos e a saber identificá-los. Pode falar também de raiva, tristeza, medo. É importante que eles saibam que vocês também sentem essas coisas.
No começo, pode ser que eles nem respondam, mas com o tempo, assim que seu filho chegar em casa, ele vai te dizer : “Pai, hoje fulaninho falou que ia me bater na escola e eu fiquei com medo.”. Até que, com esse hábito já estabelecido, lá na adolescência, eles vão saber que têm abertura pra falar com vocês sobre assuntos delicados, que normalmente os filhos não falam com os pais. Por exemplo: “Mãe, meu manorado quer transar comigo e eu tô confusa sem saber o que fazer” ou “Pai, ontem a galera me chamou pra cheirar lança-perfume e eu não consegui dizer não, mesmo não querendo fazer isso”.
E o que fazer nessas situações? Essa parte vamos ter que deixar pra o próximo artigo (“Mãe, fiz arte!”).
*Patricia Jacob é psicóloga clínica formada pela USP-SP.