Por Patricia Jacob*
O caminho para a maturidade sexual -tanto física, quanto emocional- é bastante longo e é papel dos pais guiarem seus filhos nesse trajeto, ajudando-os a se sentirem confortáveis com seu corpo e com sua sexualidade. Para isso, precisamos conhecer as fases normais pelas quais uma criança passa nessa descoberta para que possamos ajudá-las (ou ao menos não atrapalhar!).
*Até os 2 anos: nesta idade, os bebês são seres absolutamente sensuais e conseguem tirar prazer de suas cabeças até seus pés (notem a carinha de êxtase que fazem ao ganhar um carinho aonde quer que seja). Não confundam: são sensuais e não sexuais – têm o mesmo prazer em chupar o dedão do pé e em mexer no seu pipi. Eles são pura sensação e nosso papel aqui é simplesmente deixá-los à vontade na exploração de seus corpinhos sempre lembrando que eles ainda não têm nenhuma malícia. Nem quando seus pipizinhos ficam eretos: é uma reação involuntária do corpo, que começa desde dentro da barriga da mãe.
*Dos 2 aos 5: muitas crianças dentro dessa faixa de idade passam por algum momento de maior interesse em suas partes genitais. Perguntam sobre elas e muitas vezes se divertem tocando suas partes íntimas. Não há mal nenhum nisso, estão somente explorando uma sensação, e essa curiosidade passa rápido se for levada como natural. O único problema aqui é que eles ainda não conhecem as regras sociais e podem fazer isso na frente de outras pessoas.
Nosso papel é, então, explicar que não há problema em tocar suas partes íntimas, desde que o faça no seu quarto ou quando não houverem pessoas estranhas à família. Confiem em mim: se for levado como natural, o interesse passa logo; se for reprimido, a curiosidade continua e o interesse aumenta, além de já se começar a formar uma noção distorcida da sexualidade, como sendo feia ou suja (portanto, nada de “isso é feio, menina!”). É comum também nessa idade, as crianças ficarem “grudentas” com o pai do sexo oposto. Não precisam se assustar: ele está só imitando o que vê na televisão -o tipo de beijo, os gestos, às vezes até brincam com o irmãozinho ou o priminho (natural, desde que tenham idades próximas).
Aqui também a curiosidade logo passa. Ajuda se dissermos que essas são formas que os casais de gente grande têm de mostrar que se gostam. Além disso, essa é normalmente uma fase em que os pais ficam um pouco mais distante corporalmente dos filhos e aquela mãozinha acariciando o seio da mãe ou aquele beijo mais ardente, pode ser só uma tentativa de buscar novamente aquela proximidade tão grande que tinham quando bebês. Nesse caso, é só estalar um beijo de volta de forma natural ou se o toque te deixar desconfortável dizer gentilmente algo como: “o seio é uma parte íntima do corpo da mamãe, então vamos dar um abraço bem gostoso?”.
*De 6 a 10 anos: na fase anterior, as crianças descobriram as diferenças entre os homens e as mulheres, e nessa fase vai então fazer a identificação sexual com o pai do mesmo sexo. Agora é que vai aprender a ser homenzinho e a ser mulherzinha imitando o pai ou a mãe (mas isso não significa aprender princípios machistas ou feministas, ok?). Por isso, é muito importante nessa fase a presença forte do pai do mesmo sexo na vida da criança (que, na falta, pode ser subsstituída por um tio, uma avó, etc), para que ela possa se espelhar e aprender coisas importantes sobre o ser homenzinho ou ser mulherzinha. Aqui, eles normalmente reprimem um pouco mais as perguntas em relação a sexo ou nascimento, e se ainda fazem alguma brincadeira em torno disso ou se masturbam, tratam de fazer isso beeeeem escondidinho. Agora eles já têm essa noção. Essa também é a fase da “bobeira”: meninos e meninas não se misturam de jeito nenhum, mas é só um menino olhar para uma menina que começa a rir e a se mostrar.
As meninas também fazem isso: roubam o boné do amiguinho pra chamar a atenção, “brigam” com eles por qualquer coisinha… Aqui começam também aquelas paixões platônicas por uma professora ou um amigo do irmão mais velho. Mas não se preocupem, normalmente não passam de devaneios e sonhos acordados. Ao chegar perto dos 10 anos é importante que os pais expliquem sobre a menstruação para a menina e sobre a polução noturna para o menino para que não sejam pegos de surpresa e fiquem assustados.
*De 11 a 12 anos: Por volta dos 11, às vezes um pouco antes, começa a pré-adolescência. É quando o corpo começa a se preparar para as mudanças da adolescência e para a erupção de hormônios, desejos e da curiosidade no sexo oposto. Como a natureza não faz nada por acaso, nessa fase é como se ela quisesse refrear um pouco essa busca e a maioria deles passam pela fasezinha do “nojo”. Tudo o que tem a ver com sexo é nojento e qualquer comentário a respeito gera uma careta de asco horrorosa! Nessa fase os pais vão ouvir muito “não vou casar nunca!” e “não vou ter filho nunca!” (acham o parto terrível também). Outra característica aqui é o distanciamento físico que eles começam a fazer com os pais (não querem mais beijos, abraços, principalmente com o pai do sexo oposto), e pedem mais privacidade (se não o faziam, começam a fechar a porta do banheiro e do quarto). É importante que os pais respeitem essas duas coisas.
Dos 12 em diante, com a entrada na adolescência, é importante que os pais conversem abertamente com seus filhos sobre sexo, relacionamentos e opções sexuais. Tente achar oportunidades para puxar uma conversa sempre que puder (um anúncio na TV, uma notícia, etc). Assim seu filho vai saber que sempre que precisar, tem onde sanar suas dúvidas e suas angústias.
Lembrem-se sempre disso: é melhor você responder às perguntas deles, do que alguém ‘lá fora’ responder por você!
*Patricia Jacob é psicóloga clínica formada pela USP-SP.