Por Patricia Jacob*
Você já se flagrou dizendo coisas ridículas para seu filho quando está nervoso? A maioria de nós um dia ou outro já cometeu o erro de fazer promessas falsas e ameaças sem sentido. “Se você não comer todo o quiabo, você nunca mais vai fazer uma refeição nesta casa!“, “Se você não guardar seus brinquedos, eu vou dá-los todos a uma criança pobre!“, “Se não parar de fazer bagunça dentro do carro, vamos te largar no próximo posto“. Fazer ameaças que não podem ser cumpridas é completamente inútil. Imaginemos uma criança ainda sonolenta de manhã e os pais, já atrasados, ameaçam, “Se você não se apressar, eu vou te largar aqui!“. Se essa é uma possibilidade real –a criança já tem idade para ficar sozinha ou algum adulto vai ficar com ela- então a afirmação é verdadeira, e não uma ameaça falsa. Mas se falou, tem que ser cumprida!
Pais que usam ameaças e promessas falsas nunca conseguem o resultado desejado. As crianças aprendem rapidamente a não acreditar nelas e a não levar a sério o que os pais dizem. As ameaças falsas mostram uma perda de controle por parte dos pais. A criança pode até acreditar nas primeiras vezes, mas logo percebe o que é real ou não. E às vezes a criança começa até a desafiar a ameaça, pois sabe que não vai ser cumprida, e mostra quem está no controle da situação: a criança! E mesmo que o adulto use da força física para conseguir o que quer, quando uma ameaça que fez não pode ser levada adiante, a criança venceu. Não esqueçam de como a coisa funciona: 1) a criança é alertada das possíveis consequências 2) quando possível, tem uma escolha a fazer (obedecer ou não obedecer e ter a consequência) 3) e então o pai age (cumprindo a ameaça ou elogiando a criança).
E no caso da criança ser pequena e acreditar em ameaças falsas do tipo: “Se você for lá fora, o homem do saco vai te pegar!“? Esse tipo de ameaça funciona com crianças pequenas, mas com isso corremos o risco de criarmos crianças com medo de situações irreais. Seria melhor dizer firmemente: “Eu não quero que você vá lá fora, pois tem carros, você pode se perder e é perigoso“.
Outro grande erro? Promessas falsas. “Se você se comportar na casa da titia, vou te dar um brinquedo novo“, e a criança usa de toda sua força de vontade pra conseguir ficar sentadinho na sala durante aquelas longas 2 horas, a tia elogia “Nossa, como fulaninho é comportadinho!“, a mãe fica toda orgulhosa, mas não cumpre a promessa! Além de não ser bom fazer trocas desse tipo, se não forem cumpridas também levam a criança a não confiar mais nos pais.
*Patricia Jacob é psicóloga clínica formada pela USP-SP