Por Patricia Jacob*
Após os 6 anos e até por volta dos 10 ou 11 anos, a criança entra em uma fase de seu desenvolvimento emocional a que chamamos na psicologia de fase de latência. Nesta fase, a criança vive um dos mais difíceis conflitos de sua infância: a angústia de crescimento. Ao mesmo tempo em que se orgulha de se ver crescendo e ganhando autonomia na vida, vive um pavor imenso de perder a atenção e o suporte dos pais por isso. Sentem-se homenzinhos o suficiente pra paquerar uma amiguinha na escola, mas precisam da companhia do irmãozinho de dois anos pra ter coragem de ir até a cozinha à noite. Eles querem crescer, mas ao mesmo tempo têm muito medo disso. Esse conflito é normalmente a raiz dos medos que as crianças vivem nesta fase, e como ele acontece de forma inconsciente, muitas vezes elas não conseguem explicar do quê têm medo. Ou então acabam projetando seus medos em perigos concretos (ladrão, sequestro) ou em situações completamente irracionais (a mão que sai debaixo da cama para agarrar seu pé, alma penada, o ursinho de pelúcia na estante que se mexe…).
Apesar de criarem alguns medos fantasiosos como na fase anterior, nesta fase eles sabem que isso tudo não é real, mas nem assim conseguem controlar o medo. Não ajuda nada dizer a seu filho que ele não precisa ter medo ou que seu medo é bobagem. Tentar “tirar” o medo de seu filho só vai fazer aumentá-lo. A melhor forma de ajudá-lo é mostrar sua compreensão e seu apoio e estimulá-lo a enfrentar seus medos, sem nunca forçar enquanto ele não estiver pronto.
Se o medo é de escuro, de trovões, etc., o melhor a fazer é dar muita segurança, e como sempre, todo seu apoio e compreensão. Com o tempo ele vai ficando mais seguro de si e vai percebendo que não há porque temer essas situações. No caso de medo de animais, como cachorro por exemplo, nunca insista para que ele enfrente seu medo, que pode se transformar em pânico. Se você disser: “Ele não vai te machucar, mas eu percebo que te dá medo, então vamos ficar longe”, seu filho erá sentir que você está do seu lado e com isso se sentirá seguro. Comprar um filhotinho para que ele vá se acostumando com o animal aos poucos, muitas vezes também ajuda.
Essa dica vale sempre: se seu filho demonstra medo, seja do que for, aceite-o. Nunca subestime-o. Pode não parecer racional para você, mas razão e medo não andam juntos. Você pode não dividir o mesmo medo que ele, mas não é você que está sentindo. Se você se sentir tentado a caçoar dele, pense bem nos seus próprios medos mais íntimos e pergunte-se se todos eles são “razoáveis” ou racionais e como você se sentiria se não pudesse evitá-lo.
*Patricia Jacob é psicóloga clínica formada pela USP-SP.